Em profundidade

Agroecologia

A comunidade de Irapuá, no sertão do Ceará, é uma antiga região produtora de algodão. Entretanto, por não conseguir evitar que as pragas destruíssem grande parte de suas plantações, os agricultores e agricultoras locais ficaram por mais de dez anos sem uma boa safra.


Foi quando surgiu o Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria, organização sem fins lucrativos que promove a agroecologia no semiárido do Ceará. Ao chegar à região, o Esplar começou a trabalhar com seis famílias para que produzissem o algodão de forma diferente: sem queimadas, sem agrotóxico e restaurando a fertilidade da terra por meio de consórcios agroecológicos, uma combinação da cotonicultura com outras culturas agrícolas.


“Todos acreditavam que o inseto era o principal problema, mas nas oficinas e acompanhamentos técnicos do Esplar reconheceram que, na verdade, a terra estava cansada”, lembra o agricultor Vicente P. de Carvalho Neto, integrante do projeto Consórcios Agroecológicos com Algodoeiro Mocó, que conta com o apoio do Instituto C&A desde 2016.


“Fazia anos que eu não via o algodão nascer tão bem. A semente é boa e a pluma nasceu no tempo certo”, completa Vicente. Com os bons resultados, veio o aumento da renda e hoje o grupo de cultivadores de Irapuá dobrou de tamanho.

O que aprendemos

O desenvolvimento da agroecologia se dá com base na justiça social e ambiental. Esta visão pressupõe a divisão do trabalho doméstico e da gestão da produção, além de uma vida sem violência, pautada pelo respeito e pela igualdade. Isto significa que é necessário garantir o direito das mulheres à participação na vida social e política de suas comunidades, bem como garantir seu acesso à terra, água, sementes e autonomia para a produção e comercialização.

Importantes pilares da iniciativa

01.

Conhecimento compartilhado

Neste projeto há a presença de um grupo de agricultores que já plantava o algodão usando os princípios da agroecologia e de outros que ainda não tinham o costume de cultivar a pluma. A participação dos agricultores experientes ajuda a inspirar, com exemplos práticos, aqueles que estão começando.

02.

Mulheres liderando 

É preciso potencializar o importante papel das mulheres na promoção da biodiversidade e na composição da renda das famílias agricultoras. O Esplar trabalha com grupo de mulheres questões relacionadas à divisão justa do trabalho doméstico, violência sexista e empoderamento feminino. Além disso, atua com grupos mistos para discutir as relações de gênero na agricultura.

03.

Resistindo à seca

O algodão mocó é uma espécie arbórea com vida útil superior a cinco anos e mais resistente à seca e às mudanças climáticas. Além disso, exige menos trabalho dos agricultores, pois é plantado apenas uma vez a cada cinco anos ou mais, enquanto a variedade mais utilizada (o algodão herbáceo) deve ser plantada anualmente. Sua aceitação pelos participantes do projeto tem sido fundamental para seu sucesso.

Resultados

  • Em 2017, o projeto formou 117 famílias de pequenos agricultores em agroecologia, sendo que 43% dos participantes eram mulheres.
  • Foram plantados 51 hectares de consórcios agroecológicos, produzindo 1.812 kg de pluma de algodão orgânico.
  • Em agosto de 2017, a parceria foi renovada por mais três anos. O valor do apoio do Instituto C&A nesse período será de R$ 1,7 milhão e o projeto irá beneficiar 340 famílias.