Como criar condições de trabalho que mudem a vida de milhões de pessoas para melhor?

Nos últimos 20 anos, a indústria da moda utilizou auditorias de conformidade em fábricas e oficinas de costura num esforço para melhorar as condições de trabalho. Infelizmente, tal abordagem não é suficiente. Por si só, as auditorias não conseguem resolver o enorme desequilíbrio de poder na indústria da moda – que está sempre pressionando por custos menores, o que geralmente resulta em exploração.


Muitas marcas e ONGs tentam resolver as lacunas deixadas pelas auditorias ao desenvolver e implementar projetos que visam beneficiar a saúde, a segurança, o bem-estar e a produtividade dos trabalhadores. Embora esses programas beneficiem alguns trabalhadores, são projetos que exigem muito tempo, esforço, dinheiro e, em última análise, conseguem atingir um número limitado de trabalhadoras e trabalhadores, sem provocar uma mudança sistêmica.


O que pode funcionar?

Acreditamos que a melhor forma de criar mudanças em escala é com a utilização de três estratégias: divulgação pública de informações; empoderamento do trabalhador para que tenha voz; e mudança nas políticas públicas. Esses três elementos juntos resultarão em condições de trabalho dignas, pelas quais as pessoas que fazem nossas roupas poderão trabalhar em segurança e serão respeitadas e pagas de forma justa.

Como aumentar a escala das mudanças 

  1. Compartilhe dados padronizados, relevantes e específicos sobre a cadeia produtiva, os quais possam aumentar a responsabilização dos envolvidos.

    Quando se divulgam publicamente informações confiáveis, detalhadas e constantemente atualizadas, qualquer pessoa consegue comparar o desempenho das empresas ao longo do tempo e responsabilizá-las pelos seus atos.

  2. Assegure-se de que as trabalhadoras e trabalhadores da cadeia de fornecimento sejam protagonistas no processo.

    É importante que eles conheçam seus direitos e usem dados públicos para negociar coletivamente soluções para as questões mais importantes para eles. Os trabalhadores deverão ser capazes de estabelecer prioridades sobre os pontos que queiram negociar, em vez de deixar que as marcas ou os fabricantes definam a agenda sem a sua contribuição.
  3. Use a divulgação pública e as negociações feitas com os trabalhadores para alterar as políticas e coloc­á­-las em prática.A divulgação de informações por si só não garantirá a reforma das políticas. Redes, coalizões e alianças deverão ser construídas e apoiadas, sempre com a inclusão dos trabalhadores. Os dados são uma ferramenta usada por esses grupos nas pressões por mudanças nas políticas.

Número de marcas que divulgam suas cadeias de fornecimento

Desde 2015, dedicamos

€ 7.978.000

a 22 iniciativas de transparência no mundo

Insight

A transparência está aumentando

  • Em 2005, apenas três marcas divulgaram informações sobre suas cadeias de fornecimento. Já em 2017, esse número aumentou para 152 marcas.


  • O Índice de Transparência da Moda, do Fashion Revolution global, demonstra um aumento médio de 5% no nível de transparência de 98 marcas e varejistas analisados em 2017 e novamente em 2018 – sendo que alguns melhoraram seu nível de transparência em até 22%.


  • O Instituto C&A tem sido uma das principais organizações a apoiar uma maior transparência na indústria do vestuário. Desde 2015, o programa de Melhores Condições de Trabalho destinou cerca de € 8 milhões para 22 iniciativas que apoiam ou promovem a responsabilização por meio da transparência no mundo. No Brasil, foram cerca de R$ 3 milhões investidos desde a estruturação do programa, em 2016. (Consulte nossa lista de parcerias.)


  • A transparência é uma tendência e começou a ter mais destaque na mídia e em grandes eventos de sustentabilidade no Brasil e no mundo, como o Sustainable Brands São Paulo, a Conferência Ethos, o Copenhagen Fashion Summit e The Trust Conference.

História de sucesso

Primeira reunião sobre transparência em Bangladesh

Em 2017 ocorreu a primeira reunião sobre transparência no setor de vestuário em Bangladesh. Inspirada numa reunião multilateral sobre transparência que ocorreu no Sri Lanka em dezembro de 2016, a conferência reuniu mais de 50 grupos de interesse do setor e representa um marco para a indústria de vestuário em Bangladesh.

Realizado em parceria com a BRAC e com a Ethical Trading Initiative, o evento contou com a presença de 64 participantes, incluindo representantes de sindicatos, compradores, governos, doadores, associações de classe e – o mais importante – trabalhadores. Foi uma ocasião rara na qual todas as partes interessadas puderam reunir-se e se manifestar em pé de igualdade.

De forma conjunta, o grupo discutiu a maneira de tornar Bangladesh líder em termos de transparência, a fim de melhorar a reputação do país e as condições para os trabalhadores. Também foi constituído um grupo de trabalho formado por representantes de todas as partes interessadas presentes na reunião. A prioridade do grupo de trabalho é manter o entusiasmo, definindo um caminho a ser seguido e orientando colaborações futuras para desenvolver as ideias apresentadas durante o encontro.