LIÇÕES APRENDIDAS

Aprender sem dedicação não é aprender

LIÇÕES APRENDIDAS: APRENDER SEM DEDICAÇÃO NÃO É APRENDER

Para criar uma iniciativa bem-sucedida, precisamos conversar honestamente com os parceiros para estabelecer resultados alcançáveis; compreender o contexto cultural e regional; definir regras claras de engajamento; definir papéis, responsabilidades e prazos realistas e identificar riscos potenciais.

Mas, às vezes, em nossa busca premente por mudanças sistêmicas, esquecemos desses princípios básicos. E isso é um erro crucial.


Pode parecer uma lição simples mas, para nós, tem sido um desafio entender que precisamos estar constantemente atentos para aplicar o que aprendemos com as avaliações de nossas iniciativas. Como uma organização profundamente comprometida com um futuro no qual mulheres e homens que dependem desta indústria tenham vidas dignas, percebemos um sentido de urgência. Esta motivação nos leva a agir rapidamente e a procurar criar soluções que podem ser dimensionadas em diferentes geografias e em diferentes áreas de trabalho.


Mas cada iniciativa é única e nem sempre conseguimos aplicar uma abordagem padronizada. Devemos dedicar tempo e recursos para que, em conjunto com nossos parceiros, possamos entender melhor o contexto e construir uma base sólida para o sucesso de cada iniciativa individual.

Próximos passos

Compreendemos que há sempre um risco ao conceber novas formas de abordar os problemas enraizados na nossa indústria, e queremos apoiar parceiros que sejam corajosos e pensem de forma diferente. Mas também queremos que isso aconteça de forma inteligente, assegurando que nossa tarefa de casa seja feita em conjunto, e que inclua as vozes certas, especialmente das pessoas que serão mais afetadas pelas iniciativas.


No futuro, continuamos comprometidos em encomendar avaliações de terceiros de todas as maiores nossas parcerias e publicá-las on-line, bem como em nos empenharmos continuamente, internamente, em compartilhar o que funciona e o que não funciona.


Também publicaremos nosso Relatório de Percepção de Beneficiários a cada dois anos para garantir que estejamos melhorando. E continuaremos a incentivar nossos parceiros a ouvir os trabalhadores e avaliar o mercado, para entender como envolver as marcas ao projetar soluções que ainda não foram experimentadas na indústria da moda.

Rare

Acelerando o algodão sustentável na China


Para ajudar a acelerar o cultivo de algodão orgânico na China - o segundo maior agricultor de algodão no mundo - fizemos uma parceria com a Rare, uma organização não-governamental que busca impulsionar resultados de conservação por meio da mudança do comportamento humano.


A ideia de ir além do tradicional treinamento de agricultores e, em vez disso, usar técnicas de mudança de comportamento para influenciar a adoção parecia promissora. Mas os resultados demonstraram o que acontece quando os fundamentos não estão implementados.


Nem nós nem nosso parceiro conduzimos um estudo de viabilidade abrangente o suficiente para informar o projeto da iniciativa. O contexto não foi bem compreendido, os prazos estabelecidos eram irrealistas e os esforços para trazer as marcas a bordo aconteceram tarde demais. Todos esses fatores significaram que essa abordagem potencialmente inovadora ficou aquém dos objetivos do programa.


Encomendamos um estudo profundo para entender melhor o setor de algodão orgânico na China. Assim, quando chegar o momento de financiar uma iniciativa na região, teremos muito mais chances de encontrar a intervenção certa para ajudar os agricultores, o meio ambiente e o mercado do algodão orgânico na China a prosperar.



Equiception

Dando voz aos refugiados


Trabalhadoras e trabalhadores vulneráveis estão, muitas vezes invisibilisados. A sua existência é deliberadamente escondida pelas fábricas e subcontratantes, o que torna extremamente difícil saber exatamente onde eles se encontram e em que condições trabalham.


“Dar voz aos refugiados” foi um piloto inovador de um ano do nosso parceiro Equiception. A Equiception usou a tecnologia de monitoramento de mídia social para analisar as publicações postadas no Facebook de milhões de refugiados sírios associados ao setor de vestuário na Turquia. A ideia era usar a mídia social para localizá-los em fábricas ou subcontratados específicos, coletar informações sobre suas condições de trabalho e incentivar as marcas a agir.


Essa abordagem confirmou que muitos refugiados sírios estavam trabalhando em fábricas turcas, mas o programa como um todo teve impacto limitado. Em primeiro lugar, falhou em não levar em conta o contexto cultural dos trabalhadores: mulheres sírias não tendem a postar sobre sua vida privada no Facebook, de forma que poucas informações foram coletadas. Em segundo lugar, das milhões de postagens públicas capturadas, apenas um número muito pequeno incluía nomes de fábricas, nomes de marcas ou fotos de locais de trabalho. Essas informações mais genéricas não foram suficientes para que marcas, empregadores e associações setoriais tomassem medidas.


Essa nova e ousada ideia tinha potencial, mas seu projeto era falho e, por fim, não trouxe nenhuma mudança significativa para os trabalhadores migrantes sírios na Turquia. No futuro, precisamos entender melhor o contexto cultural e garantir que haja um mecanismo para incentivar as marcas a agir.



Transparentem

Trazer luz à cadeia de suprimento


Descobrir as reais condições de trabalho em cadeias de suprimento complexas ainda é um desafio.


A exclusiva abordagem da Transparentem usa relatórios investigativos de linha de frente e métodos forenses para descobrir realidades profundamente ocultas da cadeia de suprimentos. Eles conduzem investigações aprofundadas nessas cadeias e posteriormente compartilham relatórios de inteligência com as marcas e varejistas envolvidos. Assim que as marcas e varejistas são informados de qualquer infração, recebem um determinado prazo para iniciar a correção, em seguida os relatórios da Transparentem são divulgados a intermediários estratégicos, como investidores, reguladores e jornalistas, para criar urgência e mobilizar a ação. Durante esse tempo, a Transparentem trabalha com as marcas para incentivar soluções e colaboração. Quando se tornam públicas, a Transparentem revela tanto o problema original quanto as medidas tomadas para remediá-las.


Embora o modelo apresente oportunidades de diálogo e mudança positiva, ele não é, de forma alguma, perfeito. Por exemplo, a investigação de dois anos da Transparentem sobre curtumes de couro em Hazaribagh, Bangladesh, documentou uma degradação ambiental generalizada, trabalho infantil e condições de trabalho perigosas. Como resultado, a maioria das marcas confrontadas mudaram de fábricas, proibiram o couro de Bangladesh ou exigiram melhorias, e o Supremo Tribunal de Bangladesh disse às autoridades que parassem de fornecer gás, água e eletricidade para os curtumes. Por fim, estes foram transferidos de Hazaribagh para Savar.


À primeira vista, parece que muitos desses graves problemas foram resolvidos mas, na verdade, essas ações podem ter simplesmente transferido alguns problemas de uma área para outra.


Esta foi uma lição importante no entendimento de consequências não intencionais. Após a investigação de Hazaribagh, a Transparentem adaptou seus processos para compartilhar suas reportagens de forma mais ampla (além apenas dos jornalistas) e criar uma segunda investigação um ano após a divulgação, para reavaliar a situação. Para o Instituto C&A, isso reforça a necessidade de uma forte compreensão do contexto e a possibilidade de resultados não intencionais na fase de concepção de um subsídio.