Estamos vivendo tempos tumultuosos. Enquanto publicamos este último relatório anual do Instituto C&A, uma pandemia mundial está interrompendo as vidas e meios de subsistência de pessoas em todo o mundo. A indústria da moda - na qual temos trabalhado incansavelmente nos últimos cinco anos - foi abalada, prejudicando milhões de trabalhadoras e trabalhadores no setor de vestuário e as famílias de agricultoras e agricultores dos quais este setor depende. É assustador testemunhar como a COVID-19 está aprofundando questões sistêmicas que fizeram com que a indústria da moda fizesse mais mal do que bem.

Isso nos mostra que ainda temos trabalho a fazer, pois muitas dessas questões - especialmente aquelas que pioram as injustiças sociais e que criam uma grande incerteza para os que atuam no setor - são as mesmas que o Instituto C&A buscou abordar quando passou a atuar no setor da moda, em 2014.
 
Em nosso primeiro relatório anual atuando nessa indústria, anunciamos uma ambição ousada: “Contribuir para uma indústria da moda justa e sustentável, baseada em respeito e bem-estar financeiro. Uma indústria que também esteja em equilíbrio com o meio ambiente.” 

Embora reconheçamos que este era um grande desafio, fomos capazes de aproveitar os 180 anos de história de nossos fundadores, tanto na moda como no investimento social privado, para que déssemos nosso melhor. Especificamente, buscamos ajudar “a todos os envolvidos pela indústria da moda a prosperar”, pois acreditávamos, na época e também agora, que a moda pode ser genuinamente uma força para o bem. 

Trabalhamos muito, desde a fundação do Instituto, para provar nosso ponto de vista.

Começando com apenas quatro pessoas, construímos uma organização global formada por 60 profissionais comprometidos e uma rede de 180 parceiros, todos motivados por um propósito em comum: o de transformar a indústria da moda.

Como um instituto inserido em um sistema muito maior, tentamos usar nossos recursos de forma a criar um impacto maior. Isso incluiu catalisar doações adicionais de outras fundações, investidores, empresas e governo, para replicar e escalonar muitas de nossas iniciativas. Em 2019, tivemos a oportunidade de liberar €138 milhões em co-financiamento com outros interessados.

Nosso foco, contribuir para a mudança de sistemas duradouros e reais, nos possibilitou alcançar outras grandes conquistas:

Investir na sustentabilidade de longo prazo de organizações que trabalham nas linhas de frente da mudança. Comprometemo-nos a aumentar o percentual de parceiros que provêm daquelas comunidades que queremos atender. Nosso compromisso com o desenvolvimento institucional tem permitido que esses parceiros cresçam suas próprias organizações e sejam mais capazes de alcançar nossos objetivos comuns. O apoio operacional organizacional ou geral foi 9% do nosso financiamento de 2019 - um número que pretendemos aumentar à medida que trabalhamos para fortalecer o campo de organizações locais eficazes. 

Tudo isso foi realizado juntamente com o compromisso público de Gênero, Equidade e Inclusão, que influenciou não só a forma como concedemos nossas parcerias, mas também como operamos como um instituto.

Também aprendemos muito nestes últimos cinco anos. Neste relatório anual final, é um privilégio compartilhar alguns dos insights críticos que recolhemos ao longo do caminho. E enquanto nos orgulhamos das mudanças que nós e nossos parceiros ajudamos a introduzir, também sabemos que elas não são suficientes, pois, ao mesmo tempo em que temos tentado progredir na indústria da moda, temos testemunhado que a desigualdade global continua a crescer e a crise climática continua a se aprofundar.

E com o início da pandemia global (e seu efeito devastador sobre as famílias mais vulneráveis do mundo), fica claro que nosso atual sistema econômico global está falhando - falhando para com as pessoas, com o planeta em que vivemos e para com as gerações futuras. A fonte dessas duas crises entrelaçadas são forças sistêmicas poderosas que se estendem muito além de qualquer indústria.

Precisamos fazer mais. 

É por isso que, em janeiro de 2020, a Laudes Foundation foi criada em resposta à dupla crise da desigualdade social e de colapso climático e, principalmente, para acelerar a transição para uma economia justa e regenerativa.

A Laudes Foundation dará seguimento ao trabalho do Instituto C&A. Para isso, em março de 2020, incorporou grande parte do trabalho do Instituto ao seu programa de moda. Nossa missão no Instituto C&A se concentrou na transformação de uma única indústria. Mas a missão da Laudes Foundation é mais ampla - focada não em uma única indústria, mas em muitas - começando pela moda, o sistema financeiro e a construção civil. 
 
No Instituto C&A, trabalhamos com a indústria da moda para concretizar uma mudança mais ampla nos sistemas. A Laudes Foundation fará o mesmo, começando pela mesma crença fundamental de que uma indústria pode ser uma força para o bem. Queremos ver uma economia mundial que valorize todas as pessoas e respeite a natureza. Uma economia na qual as indústrias valorizam todos aqueles que participam delas e que regeneram e restauram a natureza como parte fundamental daquilo que fazem.  
 
E, assim como fizemos no Instituto C&A, a Laudes apoiará ações práticas que inspirem a indústria a colaborar - assim como ações que a responsabilizem e incentivem a mudança.  
 
Enquanto a indústria da moda e outras consideram como responder e avaliar os impactos da COVID-19, uma coisa já é clara: um retorno ao “normal” não é uma opção. O status quo - e a desigualdade e os danos ambientais que ele causa - é insustentável. Simplesmente não é possível voltar.  
 
E assim olhamos para frente, enquanto a Laudes Foundation se junta a um movimento crescente de pares e parceiros para construirmos juntos um futuro melhor.